domingo, 25 de janeiro de 2015

Ah! O domingo... E cadê o Xexéu?





Os domingos ficaram ainda mais insossos desde 4 de janeiro com a despedida da coluna de Artur Xexéu da revista O Globo, do jornal de mesmo nome. Como se já não bastasse ser domingo, tem de ser domingo e não ter mais uma coluna preciosa no jornal. No dia internacional do descanso, em que se dá descanso também à tv, já que os programas são, no mínimo, de gosto duvidosos, também o jornal passa a ser mais desinteressante ainda!

O jornal, aliás, sofreu perdas graves no último ano. 2014, afinal não foi um ano fácil para ninguém! O amadíssimo João Ubaldo Ribeiro nos deixou com um enorme vácuo no coração e na coluna do primeiro caderno. Pouco depois outro baque! Caetano Veloso também sai. Em seu lugar entrou o interessantíssimo Gabeira. Do Gabeira eu gosto, mas de quem eu iria discordar todo o domingo?

Enfim, no final de tudo, sempre se podia contar com Artur Xexéu e seu brilhante senso de humor e com o Sudoku semanal. Não mais! Xexéu, foi demitido pelo jornal, defenestrado como ele disse (vamos combinar, quantas outras pessoas utilizariam esta palavra? Adoro mesmo ele!). Junto com ele, vários outros profissionais do jornal também foram defenestrados... O resultado de tantas defenestrações é que o jornal anda tão sem brilho quanto os festivais de fim de ano.

As críticas de cinema andam cada vez mais lamentáveis e deploráveis, difícil ver tanto descabimento! O Segundo Caderno... Ah! Vou me abster dele, nem vale a pena comentar! No momento ando muitíssimo preocupada com o Sudoku... Desolada, penso em cancelar minha assinatura do jornal, que anda cada vez mais insípido e bom uso dele mesmo quem anda fazendo é meu cachorro...

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

O Jogo da Imitação



 Um filme morno. Acredito que essa frase defina “O Jogo da Imitação”. O filme conta a história de como Alan Turing conseguiu quebrar o código alemão construindo uma máquina que foi a precursora de nossos amadíssimos computadores. Claro que é uma história interessante, mas até que ponto é verdade e até onde é ficção? É difícil remontar a vida de alguém quando este alguém já morreu há tempos...

O filme para ter sido preparado para Benedict Cumberbatch brilhar, e sim, ele brilha! Está excepcional, aliás, como sempre. Cumberbatch está presente em praticamente todas as cenas do filme, os outros atores são, nada menos que secundários e quase objetos em cena, Cumberbatch brilha! O único senão, para mim ao menos, em sua interpretação é que seu personagem, Alan Turing e seu personagem, Sherlock Holmes (série) estão bastante similares, o que em si não é um problema, mas quem assiste a série, com certeza não teve como não notar. Se esta foi uma preferência do diretor, ou do próprio ator, realmente não sei, o que sei, entretanto, é que o filme é cheio de lugares comuns e nada de novo ou intrigante se dá nos 114 minutos de filme para justificar a classificação como “suspense”.

A história é bastante recortada, o vai e vem entre anos, normalmente não é um problema, mas nesse filme foi. Achei que algumas transições foram bastante mal formuladas. O personagem narra sua história para o detetive de polícia que o está investigando (veja só que inventivo...),  mas nem isso fica muito claro. O detetive sai de cena da mesma forma que entrou, furtivamente. Seu problema por ser condenado por homossexualismo (na época era crime na Inglaterra) e ser obrigado a passar por um tratamento de “castração” hormonal para não ter de ir para a cadeia, aparece com os terríveis tremores para as mãos. Ora, todos sabem, que quando um homem toma estrogênio por mais de um ano, os tremores são os menores de seus problemas!

Enfim, admito ser bastante crítica, mas achei o filme um desperdício de boa história e de bons atores, mas não é um desperdício de tempo, porque a história de Alan Turing vale a pena, mesmo que contada de forma extremamente parcial.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Resumo de livro: O Castelo de Otranto - Horace Walpole




   
              Renovando esse artigo sobre o maravilhoso livro O Castelo de Otranto de Horace Walpole

                Em 2015 escrevi uma primeira versão de análise, mas ela acabou se juntando a um grande número de análises e resumos ruins. Entretanto, como este é um livro muito importante para mim e muitas pessoas buscam material sobre ele, resolvi fazer uma análise mais robusta e consistente que a anterior. O livro merece!

                Primeiramente, quem foi Horace Walpole? Ele foi um nobre inglês, nascido em 1717. Seu pai, Robert Walpole foi primeiro ministro britânico e aos 24 anos, Horace também passou a fazer parte do Parlamento inglês. Viveu cercado de luxo em Strawberry Hill não só foi sua residência como foi desenhada por ele, com influência de várias partes da Europa. Seu estilo gótico (ou neogótico como alguns preferem) contrastava com qualquer outra construção londrina, a casa-castelo contava ainda com uma prensa gráfica particular para imprimir seus livros (um luxo incrível mesmo para grandes fortunas). Hoje totalmente restaurada, Strawberry Hill está aberta à visitação em Londres. Tanto sua função no parlamento de apoio aos reis e sendo um conservador, quanto sua residência, são importantes para compreender o livro. A importância dada ao sangue real no livro é bem compreendida com a vida que Horace Walpole levava em Londres, sendo ele mesmo um conde. Além disso, foi através de um pesadelo que o autor teve em Strawberry Hill que surgiu a ideia do livro.

                Em 1764, Horace Walpole escreve O Castelo de Otranto iniciando o romance gótico que, posteriormente, dará lugar ao adorado gênero terror. Como é possível notar, nome do livro não é “As desventuras do cruel Manfred” ou “O destino da pobre Isabela”, mas O Castelo de Otranto tem o próprio Castelo como o mais importante dentre os personagens. Através do castelo toda a ambientação da obra é possível, sem ele não haveria o elemento gótico. É possível que seu amor à Strawberry Hills tenha também justificado a escolha do autor em centrar a estória no castelo. Sobre isso é relevante frisar que em 1784 Horace Walpole lança “A Description of the Villa of Horace Walpole” um livro descrevendo sua residência em 96 páginas.

                O mistério também é um elemento fundamental nesse romance. Está presente até o final da trama, que vai se desvencilhando pouco a pouco do emaranhado de fios que são trançados. Seguindo a ideia do mistério, a noite é muito presente na história. À luz do dia o mistério fica suspenso, mas é durante a noite que o sobrenatural pode se manifestar com mais força. Somando todos esses elementos têm-se também o medo como uma constante ao longo da narrativa.

                Na primeira edição, o autor se exime de ter responsabilidade pela obra alegando tê-la encontrado em uma biblioteca de uma família católica, no norte da Inglaterra, e ter realizado somente uma tradução. Afirmava que a obra havia sido impressa na cidade de Nápoles, na Itália, em 1529, entretanto, o fato narrado provavelmente havia ocorrido entre 1095 e 1243. Em seu prefácio procura justificar sua obra e explicar algumas escolhas que “o autor” fez. Já na segunda edição, devido ao grande sucesso alcançado pela obra, Walpole assume um mea culpa e pede desculpas por ter mentido sobre a autoria, justificando tal disfarce por insegurança. Sobre o romance, o autor escreve em seu segundo prefácio:

“Foi uma tentativa de mesclar duas formas de romance, a antiga e a moderna. Na primeira, tudo era imaginação e improbabilidades; na última, sempre se pretende, e muitas vezes se consegue, copiar a natureza com fidelidade. Não que haja invenção, mas os grandes recursos da fantasia parecem ter secado em virtude de uma adesão estrita demais à vida comum. Mas, se em seus últimos espécimes, a natureza atrofiou a imaginação, ela apenas levava a cabo sua vingança, uma vez que tinha sido inteiramente excluída dos antigos romances. As ações, sentimentos e conversas dos heróis e heroínas dos tempos antigos eram tão inaturais quanto às estratégias empregadas para pô-los em movimento.”

                Ainda no segundo prefácio, Walpole confirma o que disse em seu primeiro prefácio sobre as características que definem os criados. Tendendo à bufonice, demonstram ser incapazes de sentimentos elevados. Tais personagens beiram o patético para criar uma oposição mais realçada com relação aos heróis do romance. O afirma ter se inspirado em Skakespeare para a criação desses personagens. A segunda parte desse segundo prefácio, entretanto, resume-se a ataques à Voltaire (que custou uma carta posterior de desculpas ao filósofo quando esta obra foi traduzida para o francês) e a algumas críticas acerca do teatro francês.


Personagens

Manfred – Príncipe usurpador de Otranto. Busca incessantemente a manutenção de sua linhagem e assegurar seu direito ao principado.
Hippolita – Esposa de Manfred. Gentil e virtuosa, é completamente submissa às vontades do marido.
Conrad – Filho de Manfred e Hippolita, é morto por um gigantesco elmo que (aparentemente) caiu do céu.
Matilda – Irmã de Conrad, atenciosa com os pais e com tendências a ser tornar freira. Apaixona-se por Theodore.
Isabella – Filha de Frederic, marquês de Vicenza, e noiva de Conrad. Passou anos em Otranto e considera Hippolita como sua mãe e Matilda como sua irmã. Nunca teve grandes sentimentos pelo noivo ou por Manfred. Também se apaixona por Theodore.
Theodore – Jovem e belo camponês, que se mostra ao longo do livro de grande valor. Posteriormente descobre ser filho de frei Jerome.
Frei Jerome – Frei (ou padre, na tradução) do monastério de São Nicolau, ao lado do castelo de Otranto. Muito influente com Hippolita e passa a ser detestado por Manfred. Possui um passado que esconde muitos segredos, só revelados no final do livro.
Frederic – Marquês de Vicenza, pai de Isabella há muito desaparecido.
Bianca – Criada de quarto das princesas Matilda e Isabella.
Diego e Jaquez – Guardas do castelo


Resumo do livro

Cap. I
                Manfred era o príncipe usurpador do castelo de Otranto, Itália, e tinha dois filhos: Matilda, de 18 anos e Conrad, de aproximadamente 15 anos. O príncipe usurpador rejeita sua filha, por ser mulher e não poder contar com ela para a continuidade de seu nome  para quem não se lembra na Idade Média, assim como em boa parte da Moderna, a continuidade do nome somente se tornava possível através do nascimento de um filho do sexo masculino. Em caso de morte do “chefe” da família, na falta de um herdeiro direto (filho), assumia seus bens o parente mais próximo. À viúva e suas filhas, restava uma pequena fração de bens e mais o que a benevolência do novo responsável resolvesse dispor  seu filho Conrad, entretanto, era um rapaz de grande fragilidade e doenças constantes.
                Manfred havia acordado o casamento de seu filho Conrad com Isabella, filha do Marquês de Vicenza. Desejava casar seu filho o mais rápido possível e aguardava somente que o jovem melhorasse um pouco. Hippolita, esposa de Manfred, tentou demovê-lo da ideia de casar seu filho tão depressa, porém só ouviu críticas sobre sua esterilidade que era a causa de terem somente um herdeiro no principado. Já os vassalos e súditos acreditavam que a pressa para a realização do casamento se devia ao medo de Manfred de uma antiga profecia que ninguém compreendia muito bem “castelo e senhorio de Otranto passariam da presente família, quando quer que o seu verdadeiro proprietário crescesse demais para habitá-lo”.
                No dia do casamento, aniversário de Conrad, este não aparece na capela à hora do matrimônio. Ao averiguar onde estava o jovem príncipe, descobre-se que o mesmo está no pátio do castelo, morto e despedaçado sob um elmo gigantesco com plumas negras que, aparentemente, caiu do céu. Ao contrário do que parecia, a pobre criatura acabou não tendo tempo hábil para morrer de tuberculose...
                O príncipe Manfred não pareceu transtornado pela dor de perder seu único filho, estava mais enraivecido pelo acontecido. Tampouco tentou amenizar a dor de sua esposa e sua filha, seu único interesse passou a ser sua ex futura nora, Isabella.
                Ao se juntar uma multidão de pessoas para ver o incrível elmo gigante, um jovem camponês verificou que o elmo era a réplica exata do que estava na estátua do último príncipe legítimo do castelo, Afonso “o Bom”, que estava na igreja de São Nicolau. Ao ouvir tal comentário, Manfred ficou fora de si e condenou o camponês à morte. Logicamente, lembrar naquele momento que Manfred não era o legítimo dono do castelo, mexeu na ferida de um príncipe já bastante revoltado. Ninguém mais entendeu o motivo de tal destempero do príncipe e tentaram demovê-lo dessa ideia, mas alguns súditos foram até a igreja e notaram que o elmo da estátua havia sumido. Depois disso as acusações contra o jovem se tornaram uníssonas e, tratando-o como um mago maligno, Manfred ordena que o camponês fosse preso embaixo do elmo, sem água ou comida.
                Manfred após ignorar sua esposa e filha, solicita uma audiência com Isabella onde deixa claro que irá se divorciar de Hippolita para casar-se com a donzela. Esta fica devastada tanto pelo horror que sente pelo príncipe com suas atitudes com as princesas, quanto pelo amor que sente pela princesa-mãe e por Matilda, e sabia o quanto tal decisão cruel do príncipe as afetariam profundamente. Isabella consegue fugir dos avanços de Manfred e decide ir à parte subterrânea do castelo onde sabia que existia uma passagem até a igreja de São Nicolau. Entretanto, sem conhecer bem o castelo, acaba se perdendo em meio à sua fuga desordenada. Enquanto busca Isabella, Manfred é surpreendido pelo fantasma de seu avô Ricardo que o leva até a galeria do castelo e desaparece atrás de uma porta trancada.
                No subterrâneo, Isabella encontra Theodore, o camponês que havia sido aprisionado sob o elmo por ordem de Manfred e que conseguiu fugir graças a uma fissura no chão do pátio causado pela queda do elmo, conduzindo-o diretamente àquela cripta. Juntos, Isabella e Theodore encontram o alçapão que sela o caminho para a igreja onde, se não houver outra forma, Isabela pretende encerrar-se para sempre no convento. Tão logo o encontram, os fugitivos ouvem Manfred e seus guardas procurando por Isabella. Ela consegue descer rapidamente as escadas pelo alçapão, mas Theodore acaba deixando o alçapão se fechar com estrondo, chamando a atenção de Manfred e, sem conseguir desvendar o segredo para abri-lo novamente, aguarda a chegada do príncipe e seu séquito.
                Theodore consegue contornar a ira de Manfred e dar tempo para Isabella conseguir fugir para o monastério. Já em melhores termos, o príncipe e o camponês seguem em uma investigação dentro do castelo para averiguar o aparecimento de mais uma parte da armadura gigante. O pé e a perna da gigantesca armadura foram vistos na galeria pelos guardas Diego e Jaquez, que estavam apavorados, mas o chegarem lá, não havia mais vestígios da aparição. Manfred então decide manter o jovem prisioneiro dentro do castelo em um quarto de pajem e, finalmente, se retira para descansar.

Cap. II
                Matilda, filha de Manfred, escuta Theodore cantando à noite no quarto em que está preso, bem abaixo do seu. Inicialmente acredita ser um fantasma e conversa com ele tentando ajudá-lo. Logo no início da manhã, frei Jerome, encarregado da igreja de São Nicolau comparece ao castelo com informações sobre Isabela, que estava no claustro, no convento. Enfrentando a ira de Manfred, o padre se nega a trazer de volta Isabela, mas vendo que seria inútil demover Manfred da ideia do divórcio e que, se não fosse casando com Isabela, poderia casar com qualquer outra, Jerome decide ser mais amigável com Manfred para ganhar tempo, fazendo-o acreditar que seus planos poderiam se concretizar.
                O religioso também se utiliza de Theodore para causar ciúmes em Manfred o criar uma intriga ajudando o mesmo a desistir de Isabella deixando implícito que os dois jovens eram amantes. A esta informação, Manfred fervendo em ódio manda trazerem o camponês para dar novas explicações sobre sua responsabilidade na fuga de Isabela e sobre a real natureza de sua relação. Theodore narra então o que aconteceu quando encontrou a fugitiva, mas Manfred não acredita e, novamente, o condena à morte.
                Matilda acaba vendo o interrogatório de Theodore e percebe que ele possui o mesmo rosto que Afonso “o Bom”, príncipe da linguagem original de Otranto, quadro este que ela passava horas admirando desde criança. Ao ouvir a sentença de morte, a princesa desmaia.
                Ao saber da decisão de Manfred, padre Jerome implora de joelhos para que o príncipe poupe a vida do rapaz. Tentou minimizar a história contada e isentar o rapaz da culpa injusta que lhe foi atribuída, mas não teve sucesso. O frei, entre remorsos e lágrimas, pede perdão ao camponês e ouve sua confissão antes da sua decaptação. No momento derradeiro, a blusa de Theodore escorrega e o padre vê o sinal de uma flecha vermelha em seu ombro, descobrindo que o camponês é na verdade seu filho. A pressão feita pelo povo em volta para que o príncipe poupe a vida do filho de frei Jerome acaba surtindo efeito, mas Manfred deseja ouvir a história de Theodore. Dessa forma descobre-se que o camponês é na verdade um nobre, descendente da família Falconara, uma das mais antigas da Sicília e que Jerome é na realidade o conde de Falconara.
                Ainda assim, Manfred não libera o rapaz e diz que somente o deixará livre se o padre trouxer Isabella de volta. Enquanto discutia-se sobre o impasse, ouve-se o som de trombetas e cavalos sob a anuência das plumas do gigantesco elmo.

Cap. III
                A princípio, Manfred se desespera acreditando ser novos sinais de punição divina por sua má conduta, pede perdão ao padre Jerome e diz que não matará seu filho e que ambos poderiam ir. O frei então vai até o portão para descobrir que exército estava circundando o castelo e o arauto afirma ser do “cavaleiro da espada gigantesca”, que pedia audiência com o príncipe, o qual chamava de “usurpador de Otranto”. Ao ouvir tais palavras, Manfred ficou novamente possesso e voltou atrás em tudo o que havia dito e obriga o padre a buscar Isabella se quiser a liberdade e a vida de seu filho.
                Ao decidir ouvir o arauto, Manfred descobre que o tal cavaleiro da espada gigantesca estava lá sob ordens de Frederic, marquês de Vicenza, pai de Isabella, que ordenava o imediato retorno da jovem. Afirmava que os tutores da menina a entregaram de forma arbitrária, aproveitando-se da ausência do pai. Além disso, Frederico de Vicenza também exigia a devolução do principado de Otranto, pois seria ele o herdeiro legítimo por ser o mais próximo em linhagem de Afonso “o Bom”.
                Manfred sabia da verdade nessas palavras. Seu pai e avô haviam sido muito poderosos para que os marqueses de Vicenza pudessem obriga-los a entregarem o principado e, por isso, nunca antes haviam tentado obtê-lo. Outra verdade era que, ao saber que Frederic, então jovem e apaixonado, havia perdido a esposa ao dar à luz e foi combater nas cruzadas, por não saber lidar com o luto. Lá foi ferido e preso, dado como morto. Por isso, subornou os tutores de Isabella para que esta casasse com seu filho e, sendo ela a herdeira legítima de Otranto, não haveria mais quem pudesse contestar seu direito ao principado. É também por esse motivo que ele mesmo decidiu casar com a jovem.
                Para ganhar tempo, Manfred foi polido e educado com o arauto, convidando a comitiva de Frederic a adentrar o castelo e serem recebidos com cortesia. Obviamente, não deixou escapar nada sobre o sumiço de Isabella. A grande comitiva trazia uma gigantesca espada, carregada por mais de 100 homens, que por pouco não tombavam sob seu peso. O cavaleiro da espada gigantesca e os demais, entretanto, não retiraram suas armaduras e elmos, mesmo após adentrar no castelo.
                No convento, frei Jerome descobre que se espalhou a notícia equivocada da morte da princesa Hippolita. Ao saber disso, Isabella desaparece do monastério, para desespero de padre Jerome.
                Manfred tentou de todas as formas conquistar seus convidados. Deu seu anel para o cavaleiro durante sua estadia, como sinal de boa vontade. Ofereceu vinho e se mostrou amável, como não deu certo, se mostrou infeliz, um pai que perdeu seu filho e toda a vontade de viver. E isso deu resultado. Mas enquanto Manfred se ocupava a enredar-lhes em sua desafortunada história, frei Jerome o interrompe afirmando que Isabella havia fugido do monastério. Essa notícia afligiu os cavaleiros e findou qualquer atenuação que poderiam sentir com relação à Manfred.
                Todos os guardas do castelo foram incumbidos a procurar Isabella e, ficando a torre onde Theodore estava preso, desguarnecida, Matilda foi então encontrá-lo. Matilda deseja libertá-lo, mas Theodore inicialmente não deseja fugir para não colocar em risco a vida da donzela. Ele fica encantado com a beleza de Matilda e chocado ao saber que ela é filha de Manfred. A atitude de Theodore com Matilda é um tanto... demasiada:
            Dê-me sua graciosa mão como penhor de que não está me enganando disse Theodore e deixe-me lavá-la com as lágrimas autênticas de gratidão.
            ‒Não ‒ disse a princesa. ‒ Controle-se.
            Theodore segue assim, um tanto pedante, mas apaixonado. Ambos estão. Matilda o veste com uma armadura do castelo e, por sua insistência, Theodore foge para as cavernas além da floresta. Lá ele encontra Isabella, que estava se escondendo de Manfred. Logo em seguida o cavaleiro da espada gigantesca também chega ao local, guiado por um camponês que havia visto uma mulher naquela região. Ao ver Theodore, o cavaleiro acreditou tratar-se de um dos homens de Manfred e que este ocultara Isabella. Theodore, que também acreditava ser um dos homens do príncipe, se pôs no caminho do cavaleiro. Os dois homens iniciaram um duelo e, mesmo Theodore não tendo sido criado como um cavaleiro, atinge seu adversário em três golpes e vence o duelo. O cavaleiro se revela então como sendo Frederic, marquês de Vicenza e Isabella desespera-se. Para tentar tratar das feridas do nobre que se encontrava à beira da morte, todos retornam então ao castelo.

Cap. IV
            Ao retornarem para o castelo, Frederic foi atendido por médicos e depois tratado por Hippolita e pelas princesas. O marquês fica encantado com o tratamento recebido e pela dedicação de Hippolita e fica encantado por Matilda. Buscando ficar mais tempo próximo da princesa, ele decide narrar toda a sua jornada de sua prisão na Terra Santa até encontrar a espada gigantesca e descobrir que encontraria sua filha em apuros no local onde tivesse um elmo em tamanho coerente com a espada encontrada.
            Quando Manfred se reúne aos demais, fica em choque ao ver Theodore com a armadura, pois estava a imagem de Afonso, “o Bom”. E é nessa hora que Theodore conta a sua história. Aos cinco anos foi sequestrado, juntamente com sua mãe, por corsários na costa da Sicília. Sua mãe morreu um ano depois, mas o confidenciou que era filho do conde de Falconara. Ele foi escravizado pelos piratas até dois anos antes, quando uma embarcação cristã derrotou o navio pirata onde estava e ele foi deixado novamente na Sicília. Ao tentar buscar o pai, descobriu que o mesmo havia abraçado a vida religiosa na região de Nápoles, após chegar à sua propriedade e descobrir a mesma saqueada e sua família levada. Desde então ele busca o pai e se sustenta com a força de seu trabalho.
            Nesse tempo, as duas princesas, Matilda e Isabella, se encontra apaixonadas por Theodore. Mesmo que ambas estivessem com ciúmes uma da outra, conversaram sobre seus sentimentos Isabella desistiu de sua paixão para Matilda, já que os olhos e as atenções de Theodore não a deixaram durante todo o dia. Hippolita adentra no quarto pouco depois, e informa da decisão de dar a mão de Matilda para Frederic. Isabella então conta às duas princesas sobre o intento de Manfred de casar-se com ela e divorciar-se de sua esposa. Hippolita decide então ela mesma solicitará o divórcio e encerrar-se-á no convento e Matilda promete que renunciará à sua paixão por Theodore.
            No monastério, frei Jerome descobre sobre a afeição de seu filho por Matilda e decide intervir contra essa paixão, mas o jovem não lhe dá ouvidos. Hippolita vai até lá para saber a opinião de frei Jerome sobre seu divórcio, e este se diz veementemente contra. No castelo, Frederic aceita a ideia de Manfred de realizar um casamento duplo, os dois príncipes, com as duas princesas, Isabella e Matilda. Manfred vai atrás de Hippolita para impedir que ela dê ouvidos ao frei. Chegando lá ele afirma a ambos, que estavam aos pés da estátua de Afonso, “o Bom”, que o casamento duplo irá acontecer. Nesse momento, três gotas de sangue pingam da estátua. Ao contrário do dia anterior, o frei não mais estava calmo e dócil, mas estava enfurecido e apto à discussão com o príncipe. Manfred então decide expulsar Theodore do principado.

Cap. V
            Manfred questiona à Bianca, criada de quarto das princesas, sobre o relacionamento de Isabella e Theodore, pois acreditava que a mudança de postura do frei se devia a algum arranjo realizado com Frederic. Enquanto aguardava o príncipe ao pé de uma escada para dar ais informações sobre Isabella, Bianca ouve um ruído e vê a mão de uma gigantesca armadura acima das escadas. A aia se desespera e corre até Manfred, que estava em conversa com Frederic. Este acontecimento faz o marquês repensar seu acordo com o príncipe, mas a afeição que sente por Matilda o faz persistir no arranjo do casamento.
            Após o jantar, Frederic se dirige ao oratório para conversar com Hippolita e confirmar que ela está de acordo com o divórcio. Mas, ao invés de encontrar a princesa, encontra um esqueleto em um manto de ermitão. Era o fantasma do ermitão que conheceu quando deixou a prisão e que o indicou o local da espada gigantesca. A aparição o lembrou que ele não foi libertado da prisão para cometer pecados carnais e o mandou esquecer Matilda.  Frederic fica prostrado ao chão e é nesse estado de desespero que Hippolita o encontra. Despertando do torpor com a chegada da princesa, o marquês se dirige ao seu quarto e encontra Manfred que o esperava para uma noite de bebidas e músicas para celebrar o noivado. Frederic deixa Manfred sozinho e fecha a porta em sua cara. Manfred fica possesso e é nesse estado que encontra o guarda que deixou vigiando o monastério. O príncipe fica sabendo então que uma mulher saiu do castelo para encontrar-se com Theodore embaixo da estátua de Afonso. Manfred com gana assassina vai até o local e acreditando que se trata de Isabella, apunhala o peito de sua própria filha, Matilda.
            Matilda enquanto estava caída exangue, pedia que amparassem seu pai e que não deixassem que ele se matasse também. Já no castelo, os médicos informaram que sua condição era intratável e em seu leito de morte, juntou as mãos de Hippolita e Manfred sobre seu peito ensanguentado para que ficassem juntos. Theodore, em seu desespero, pediu para casar-se com Matilda antes que ela perecesse, mas não conseguiu.
            Após a morte de Matilda, ouve-se um estrondo de trovão que sacudiu o chão e todo o castelo, fazendo paredes desabarem logo atrás de Manfred. Um grande ruído de armadura começou a ser ouvido e uma gigantesca imagem de Afonso aparece em meio às ruínas dizendo que Theodore era seu herdeiro legítimo. Após isso, a imagem sobe aos céus e é possível divisar o vulto de São Nicolau ao seu lado (!).
            Tocado pelo sobrenatural, Manfred decide abdicar do principado e conta a todos os presentes sobre a usurpação do principado e como seu avô, que era criado de quarto de Afonso, o envenenou e forjou um testamento que o nomeava como único herdeiro. Mas não compreende como Theodore pode ser o verdadeiro herdeiro, pois Afonso não havia deixado herdeiros. É neste momento que frei Jerome então conta a sua versão da história, que explica como Theodore tornou-se o herdeiro do principado. Afonso estava indo de navio para a Terra Santa, mas ficou três meses preso na Sicília por causa da força dos ventos. Lá ele conheceu Vitória, uma donzela por quem se apaixonou. Decidiu casar-se com ela, mas como havia jurado lutar nas Cruzadas, guardou o casamento em segredo até retornar da Terra Santa. Durante esse tempo Vitória ficou grávida e deu a luz à uma menina, mas ao saber da morte de Afonso e que Ricardo havia assumido o trono, somente pode guardar um documento que afirmava a validade de seu casamento. A filha de Afonso, mãe de Theodoro, casou-se com o conde de Falconara, que sabia de toda a história.
            Manfred e Hippolita decidiram tomar o hábito e viveram nos monastérios vizinhos. Frederic decidiu dar a mão de Isabella para Theodore que, triste pela morte de Matilda, decide aceita-la depois de algum tempo, pois era somente Isabella quem poderia compreendê-lo e compartilhar de seu sentimento de perene melancolia pela perda de Matilda.