Renovando esse artigo sobre o
maravilhoso livro O Castelo de Otranto
de Horace Walpole
Em 2015 escrevi uma
primeira versão de análise, mas ela acabou se juntando a um grande número de
análises e resumos ruins. Entretanto, como este é um livro muito importante
para mim e muitas pessoas buscam material sobre ele, resolvi fazer uma análise
mais robusta e consistente que a anterior. O livro merece!
Primeiramente, quem foi Horace
Walpole? Ele foi um nobre inglês, nascido em 1717. Seu pai, Robert Walpole foi
primeiro ministro britânico e aos 24 anos, Horace também passou a fazer parte
do Parlamento inglês. Viveu cercado de luxo em Strawberry Hill não só foi sua residência como foi desenhada por
ele, com influência de várias partes da Europa. Seu estilo gótico (ou neogótico
como alguns preferem) contrastava com qualquer outra construção londrina, a
casa-castelo contava ainda com uma prensa gráfica particular para imprimir seus
livros (um luxo incrível mesmo para grandes fortunas). Hoje totalmente
restaurada, Strawberry Hill está
aberta à visitação em Londres. Tanto sua função no parlamento de apoio aos reis
e sendo um conservador, quanto sua residência, são importantes para compreender
o livro. A importância dada ao sangue real no livro é bem compreendida com a
vida que Horace Walpole levava em Londres, sendo ele mesmo um conde. Além
disso, foi através de um pesadelo que o autor teve em Strawberry Hill que surgiu a ideia do livro.
Em 1764, Horace Walpole escreve O Castelo de Otranto iniciando o romance
gótico que, posteriormente, dará lugar ao adorado gênero terror. Como é
possível notar, nome do livro não é “As desventuras do cruel Manfred” ou “O
destino da pobre Isabela”, mas O Castelo
de Otranto tem o próprio Castelo como o mais importante dentre os
personagens. Através do castelo toda a ambientação da obra é possível, sem ele
não haveria o elemento gótico. É possível que seu amor à Strawberry Hills tenha também justificado a escolha do autor em
centrar a estória no castelo. Sobre isso é relevante frisar que em 1784 Horace
Walpole lança “A Description of the Villa of Horace Walpole” um livro
descrevendo sua residência em 96 páginas.
O mistério também é um elemento
fundamental nesse romance. Está presente até o final da trama, que vai se
desvencilhando pouco a pouco do emaranhado de fios que são trançados. Seguindo
a ideia do mistério, a noite é muito presente na história. À luz do dia o
mistério fica suspenso, mas é durante a noite que o sobrenatural pode se
manifestar com mais força. Somando todos esses elementos têm-se também o medo
como uma constante ao longo da narrativa.
Na primeira edição, o autor se
exime de ter responsabilidade pela obra alegando tê-la encontrado em uma
biblioteca de uma família católica, no norte da Inglaterra, e ter realizado
somente uma tradução. Afirmava que a obra havia sido impressa na cidade de
Nápoles, na Itália, em 1529, entretanto, o fato narrado provavelmente havia
ocorrido entre 1095 e 1243. Em seu prefácio procura justificar sua obra e
explicar algumas escolhas que “o autor” fez. Já na segunda edição, devido ao
grande sucesso alcançado pela obra, Walpole assume um mea culpa e pede desculpas por ter mentido sobre a autoria,
justificando tal disfarce por insegurança. Sobre o romance, o autor escreve em
seu segundo prefácio:
“Foi
uma tentativa de mesclar duas formas de romance, a antiga e a moderna. Na
primeira, tudo era imaginação e improbabilidades; na última, sempre se
pretende, e muitas vezes se consegue, copiar a natureza com fidelidade. Não que
haja invenção, mas os grandes recursos da fantasia parecem ter secado em
virtude de uma adesão estrita demais à vida comum. Mas, se em seus últimos espécimes,
a natureza atrofiou a imaginação, ela apenas levava a cabo sua vingança, uma
vez que tinha sido inteiramente excluída dos antigos romances. As ações, sentimentos
e conversas dos heróis e heroínas dos tempos antigos eram tão inaturais quanto às
estratégias empregadas para pô-los em movimento.”
Ainda no segundo prefácio,
Walpole confirma o que disse em seu primeiro prefácio sobre as características que
definem os criados. Tendendo à bufonice, demonstram ser incapazes de
sentimentos elevados. Tais personagens beiram o patético para criar uma
oposição mais realçada com relação aos heróis do romance. O afirma ter se inspirado
em Skakespeare para a criação desses personagens. A segunda parte desse segundo
prefácio, entretanto, resume-se a ataques à Voltaire (que custou uma carta
posterior de desculpas ao filósofo quando esta obra foi traduzida para o francês)
e a algumas críticas acerca do teatro francês.
Personagens
Manfred
– Príncipe usurpador de Otranto. Busca incessantemente a manutenção de sua
linhagem e assegurar seu direito ao principado.
Hippolita
– Esposa de Manfred. Gentil e virtuosa, é completamente submissa às vontades do
marido.
Conrad
– Filho de Manfred e Hippolita, é morto por um gigantesco elmo que (aparentemente)
caiu do céu.
Matilda
– Irmã de Conrad, atenciosa com os pais e com tendências a ser tornar freira. Apaixona-se
por Theodore.
Isabella
– Filha de Frederic, marquês de Vicenza, e noiva de Conrad. Passou anos em
Otranto e considera Hippolita como sua mãe e Matilda como sua irmã. Nunca teve
grandes sentimentos pelo noivo ou por Manfred. Também se apaixona por Theodore.
Theodore
– Jovem e belo camponês, que se mostra ao longo do livro de grande valor.
Posteriormente descobre ser filho de frei Jerome.
Frei
Jerome – Frei (ou padre, na tradução) do monastério de São Nicolau, ao lado do castelo de Otranto. Muito
influente com Hippolita e passa a ser detestado por Manfred. Possui um passado
que esconde muitos segredos, só revelados no final do livro.
Frederic
– Marquês de Vicenza, pai de Isabella há muito desaparecido.
Bianca
– Criada de quarto das princesas Matilda e Isabella.
Diego
e Jaquez – Guardas do castelo
Resumo
do livro
Cap.
I
Manfred era o príncipe usurpador
do castelo de Otranto, Itália, e tinha dois filhos: Matilda, de 18 anos e
Conrad, de aproximadamente 15 anos. O príncipe usurpador rejeita sua filha, por
ser mulher e não poder contar com ela para a continuidade de seu nome ‒
para quem não se lembra
na Idade Média, assim
como em boa parte da Moderna, a continuidade do nome somente se tornava possível através do nascimento de um filho do sexo
masculino. Em caso de morte do “chefe” da família, na falta de um herdeiro
direto (filho), assumia seus bens o parente mais próximo. À viúva e suas filhas,
restava uma pequena fração de bens e mais o que a benevolência do novo
responsável resolvesse dispor ‒ seu filho Conrad, entretanto, era
um rapaz de grande fragilidade e doenças constantes.
Manfred havia acordado o
casamento de seu filho Conrad com Isabella, filha do Marquês de Vicenza. Desejava
casar seu filho o mais rápido possível e aguardava somente que o jovem
melhorasse um pouco. Hippolita, esposa de Manfred, tentou demovê-lo da ideia de
casar seu filho tão depressa, porém só ouviu críticas sobre sua esterilidade
que era a causa de terem somente um herdeiro no principado. Já os vassalos e
súditos acreditavam que a pressa para a realização do casamento se devia ao
medo de Manfred de uma antiga profecia que ninguém compreendia muito bem “castelo e senhorio de Otranto passariam da
presente família, quando quer que o seu verdadeiro proprietário crescesse
demais para habitá-lo”.
No dia do casamento, aniversário
de Conrad, este não aparece na capela à hora do matrimônio. Ao averiguar onde
estava o jovem príncipe, descobre-se que o mesmo está no pátio do castelo,
morto e despedaçado sob um elmo gigantesco com plumas negras que,
aparentemente, caiu do céu. Ao contrário do que parecia, a pobre criatura
acabou não tendo tempo hábil para morrer de tuberculose...
O príncipe Manfred não pareceu
transtornado pela dor de perder seu único filho, estava mais enraivecido pelo
acontecido. Tampouco tentou amenizar a dor de sua esposa e sua filha, seu único
interesse passou a ser sua ex futura nora, Isabella.
Ao se juntar uma multidão de
pessoas para ver o incrível elmo gigante, um jovem camponês verificou que o
elmo era a réplica exata do que estava na estátua do último príncipe legítimo
do castelo, Afonso “o Bom”, que estava na igreja de São Nicolau. Ao ouvir tal
comentário, Manfred ficou fora de si e condenou o camponês à morte. Logicamente,
lembrar naquele momento que Manfred não era o legítimo dono do castelo, mexeu
na ferida de um príncipe já bastante revoltado. Ninguém mais entendeu o motivo
de tal destempero do príncipe e tentaram demovê-lo dessa ideia, mas alguns
súditos foram até a igreja e notaram que o elmo da estátua havia sumido. Depois
disso as acusações contra o jovem se tornaram uníssonas e, tratando-o como um
mago maligno, Manfred ordena que o camponês fosse preso embaixo do elmo, sem
água ou comida.
Manfred após ignorar sua esposa
e filha, solicita uma audiência com Isabella onde deixa claro que irá se
divorciar de Hippolita para casar-se com a donzela. Esta fica devastada tanto
pelo horror que sente pelo príncipe com suas atitudes com as princesas, quanto
pelo amor que sente pela princesa-mãe e por Matilda, e sabia o quanto tal
decisão cruel do príncipe as afetariam profundamente. Isabella consegue fugir
dos avanços de Manfred e decide ir à parte subterrânea do castelo onde sabia
que existia uma passagem até a igreja de São Nicolau. Entretanto, sem conhecer
bem o castelo, acaba se perdendo em meio à sua fuga desordenada. Enquanto busca
Isabella, Manfred é surpreendido pelo fantasma de seu avô Ricardo que o leva
até a galeria do castelo e desaparece atrás de uma porta trancada.
No subterrâneo, Isabella
encontra Theodore, o camponês que havia sido aprisionado sob o elmo por ordem
de Manfred e que conseguiu fugir graças a uma fissura no chão do pátio causado
pela queda do elmo, conduzindo-o diretamente àquela cripta. Juntos, Isabella e
Theodore encontram o alçapão que sela o caminho para a igreja onde, se não
houver outra forma, Isabela pretende encerrar-se para sempre no convento. Tão
logo o encontram, os fugitivos ouvem Manfred e seus guardas procurando por
Isabella. Ela consegue descer rapidamente as escadas pelo alçapão, mas Theodore
acaba deixando o alçapão se fechar com estrondo, chamando a atenção de Manfred
e, sem conseguir desvendar o segredo para abri-lo novamente, aguarda a chegada
do príncipe e seu séquito.
Theodore consegue contornar a
ira de Manfred e dar tempo para Isabella conseguir fugir para o monastério. Já
em melhores termos, o príncipe e o camponês seguem em uma investigação dentro
do castelo para averiguar o aparecimento de mais uma parte da armadura gigante.
O pé e a perna da gigantesca armadura foram vistos na galeria pelos guardas
Diego e Jaquez, que estavam apavorados, mas o chegarem lá, não havia mais
vestígios da aparição. Manfred então decide manter o jovem prisioneiro dentro
do castelo em um quarto de pajem e, finalmente, se retira para descansar.
Cap.
II
Matilda, filha de Manfred,
escuta Theodore cantando à noite no quarto em que está preso, bem abaixo do
seu. Inicialmente acredita ser um fantasma e conversa com ele tentando
ajudá-lo. Logo no início da manhã, frei Jerome, encarregado da igreja de São
Nicolau comparece ao castelo com informações sobre Isabela, que estava no
claustro, no convento. Enfrentando a ira de Manfred, o padre se nega a trazer
de volta Isabela, mas vendo que seria inútil demover Manfred da ideia do
divórcio e que, se não fosse casando com Isabela, poderia casar com qualquer
outra, Jerome decide ser mais amigável com Manfred para ganhar tempo, fazendo-o
acreditar que seus planos poderiam se concretizar.
O religioso também se utiliza de
Theodore para causar ciúmes em Manfred o criar uma intriga ajudando o mesmo a
desistir de Isabella deixando implícito que os dois jovens eram amantes. A esta
informação, Manfred fervendo em ódio manda trazerem o camponês para dar novas
explicações sobre sua responsabilidade na fuga de Isabela e sobre a real
natureza de sua relação. Theodore narra então o que aconteceu quando encontrou
a fugitiva, mas Manfred não acredita e, novamente, o condena à morte.
Matilda acaba vendo o
interrogatório de Theodore e percebe que ele possui o mesmo rosto que Afonso “o
Bom”, príncipe da linguagem original de Otranto, quadro este que ela passava
horas admirando desde criança. Ao ouvir a sentença de morte, a princesa desmaia.
Ao saber da decisão de Manfred,
padre Jerome implora de joelhos para que o príncipe poupe a vida do rapaz.
Tentou minimizar a história contada e isentar o rapaz da culpa injusta que lhe
foi atribuída, mas não teve sucesso. O frei, entre remorsos e lágrimas, pede
perdão ao camponês e ouve sua confissão antes da sua decaptação. No momento
derradeiro, a blusa de Theodore escorrega e o padre vê o sinal de uma flecha
vermelha em seu ombro, descobrindo que o camponês é na verdade seu filho. A
pressão feita pelo povo em volta para que o príncipe poupe a vida do filho de frei
Jerome acaba surtindo efeito, mas Manfred deseja ouvir a história de Theodore.
Dessa forma descobre-se que o camponês é na verdade um nobre, descendente da
família Falconara, uma das mais antigas da Sicília e que Jerome é na realidade
o conde de Falconara.
Ainda assim, Manfred não libera
o rapaz e diz que somente o deixará livre se o padre trouxer Isabella de volta.
Enquanto discutia-se sobre o impasse, ouve-se o som de trombetas e cavalos sob
a anuência das plumas do gigantesco elmo.
Cap.
III
A princípio, Manfred se
desespera acreditando ser novos sinais de punição divina por sua má conduta,
pede perdão ao padre Jerome e diz que não matará seu filho e que ambos poderiam
ir. O frei então vai até o portão para descobrir que exército estava
circundando o castelo e o arauto afirma ser do “cavaleiro da espada
gigantesca”, que pedia audiência com o príncipe, o qual chamava de “usurpador
de Otranto”. Ao ouvir tais palavras, Manfred ficou novamente possesso e voltou
atrás em tudo o que havia dito e obriga o padre a buscar Isabella se quiser a
liberdade e a vida de seu filho.
Ao decidir ouvir o arauto,
Manfred descobre que o tal cavaleiro da espada gigantesca estava lá sob ordens
de Frederic, marquês de Vicenza, pai de Isabella, que ordenava o imediato
retorno da jovem. Afirmava que os tutores da menina a entregaram de forma
arbitrária, aproveitando-se da ausência do pai. Além disso, Frederico de
Vicenza também exigia a devolução do principado de Otranto, pois seria ele o
herdeiro legítimo por ser o mais próximo em linhagem de Afonso “o Bom”.
Manfred sabia da verdade nessas
palavras. Seu pai e avô haviam sido muito poderosos para que os marqueses de
Vicenza pudessem obriga-los a entregarem o principado e, por isso, nunca antes
haviam tentado obtê-lo. Outra verdade era que, ao saber que Frederic, então
jovem e apaixonado, havia perdido a esposa ao dar à luz e foi combater nas
cruzadas, por não saber lidar com o luto. Lá foi ferido e preso, dado como
morto. Por isso, subornou os tutores de Isabella para que esta casasse com seu
filho e, sendo ela a herdeira legítima de Otranto, não haveria mais quem
pudesse contestar seu direito ao principado. É também por esse motivo que ele
mesmo decidiu casar com a jovem.
Para ganhar tempo, Manfred foi
polido e educado com o arauto, convidando a comitiva de Frederic a adentrar o
castelo e serem recebidos com cortesia. Obviamente, não deixou escapar nada
sobre o sumiço de Isabella. A grande comitiva trazia uma gigantesca espada,
carregada por mais de 100 homens, que por pouco não tombavam sob seu peso. O
cavaleiro da espada gigantesca e os demais, entretanto, não retiraram suas
armaduras e elmos, mesmo após adentrar no castelo.
No convento, frei Jerome
descobre que se espalhou a notícia equivocada da morte da princesa Hippolita.
Ao saber disso, Isabella desaparece do monastério, para desespero de padre
Jerome.
Manfred tentou de todas as
formas conquistar seus convidados. Deu seu anel para o cavaleiro durante sua
estadia, como sinal de boa vontade. Ofereceu vinho e se mostrou amável, como
não deu certo, se mostrou infeliz, um pai que perdeu seu filho e toda a vontade
de viver. E isso deu resultado. Mas enquanto Manfred se ocupava a enredar-lhes
em sua desafortunada história, frei Jerome o interrompe afirmando que Isabella
havia fugido do monastério. Essa notícia afligiu os cavaleiros e findou
qualquer atenuação que poderiam sentir com relação à Manfred.
Todos os guardas do castelo
foram incumbidos a procurar Isabella e, ficando a torre onde Theodore estava
preso, desguarnecida, Matilda foi então encontrá-lo. Matilda deseja libertá-lo,
mas Theodore inicialmente não deseja fugir para não colocar em risco a vida da
donzela. Ele fica encantado com a beleza de Matilda e chocado ao saber que ela
é filha de Manfred. A atitude de Theodore com Matilda é um tanto... demasiada:
‒ Dê-me sua graciosa mão como penhor de que não está me
enganando ‒ disse Theodore ‒ e deixe-me lavá-la com as lágrimas autênticas de
gratidão.
‒Não ‒ disse a princesa. ‒
Controle-se.
Theodore segue assim, um tanto
pedante, mas apaixonado. Ambos estão. Matilda o veste com uma armadura do
castelo e, por sua insistência, Theodore foge para as cavernas além da
floresta. Lá ele encontra Isabella, que estava se escondendo de Manfred. Logo
em seguida o cavaleiro da espada gigantesca também chega ao local, guiado por
um camponês que havia visto uma mulher naquela região. Ao ver Theodore, o
cavaleiro acreditou tratar-se de um dos homens de Manfred e que este ocultara
Isabella. Theodore, que também acreditava ser um dos homens do príncipe, se pôs
no caminho do cavaleiro. Os dois homens iniciaram um duelo e, mesmo Theodore não
tendo sido criado como um cavaleiro, atinge seu adversário em três golpes e
vence o duelo. O cavaleiro se revela então como sendo Frederic, marquês de
Vicenza e Isabella desespera-se. Para tentar tratar das feridas do nobre que se
encontrava à beira da morte, todos retornam então ao castelo.
Cap. IV
Ao retornarem para o castelo,
Frederic foi atendido por médicos e depois tratado por Hippolita e pelas
princesas. O marquês fica encantado com o tratamento recebido e pela dedicação
de Hippolita e fica encantado por Matilda. Buscando ficar mais tempo próximo da
princesa, ele decide narrar toda a sua jornada de sua prisão na Terra Santa até
encontrar a espada gigantesca e descobrir que encontraria sua filha em apuros
no local onde tivesse um elmo em tamanho coerente com a espada encontrada.
Quando Manfred se reúne aos demais,
fica em choque ao ver Theodore com a armadura, pois estava a imagem de Afonso,
“o Bom”. E é nessa hora que Theodore conta a sua história. Aos cinco anos foi
sequestrado, juntamente com sua mãe, por corsários na costa da Sicília. Sua mãe
morreu um ano depois, mas o confidenciou que era filho do conde de Falconara.
Ele foi escravizado pelos piratas até dois anos antes, quando uma embarcação
cristã derrotou o navio pirata onde estava e ele foi deixado novamente na
Sicília. Ao tentar buscar o pai, descobriu que o mesmo havia abraçado a vida
religiosa na região de Nápoles, após chegar à sua propriedade e descobrir a
mesma saqueada e sua família levada. Desde então ele busca o pai e se sustenta
com a força de seu trabalho.
Nesse tempo, as duas princesas,
Matilda e Isabella, se encontra apaixonadas por Theodore. Mesmo que ambas
estivessem com ciúmes uma da outra, conversaram sobre seus sentimentos Isabella
desistiu de sua paixão para Matilda, já que os olhos e as atenções de Theodore
não a deixaram durante todo o dia. Hippolita adentra no quarto pouco depois, e
informa da decisão de dar a mão de Matilda para Frederic. Isabella então conta
às duas princesas sobre o intento de Manfred de casar-se com ela e divorciar-se
de sua esposa. Hippolita decide então ela mesma solicitará o divórcio e
encerrar-se-á no convento e Matilda promete que renunciará à sua paixão por
Theodore.
No monastério, frei Jerome descobre
sobre a afeição de seu filho por Matilda e decide intervir contra essa paixão,
mas o jovem não lhe dá ouvidos. Hippolita vai até lá para saber a opinião de
frei Jerome sobre seu divórcio, e este se diz veementemente contra. No castelo,
Frederic aceita a ideia de Manfred de realizar um casamento duplo, os dois
príncipes, com as duas princesas, Isabella e Matilda. Manfred vai atrás de
Hippolita para impedir que ela dê ouvidos ao frei. Chegando lá ele afirma a
ambos, que estavam aos pés da estátua de Afonso, “o Bom”, que o casamento duplo
irá acontecer. Nesse momento, três gotas de sangue pingam da estátua. Ao
contrário do dia anterior, o frei não mais estava calmo e dócil, mas estava
enfurecido e apto à discussão com o príncipe. Manfred então decide expulsar
Theodore do principado.
Cap.
V
Manfred questiona à Bianca, criada
de quarto das princesas, sobre o relacionamento de Isabella e Theodore, pois
acreditava que a mudança de postura do frei se devia a algum arranjo realizado
com Frederic. Enquanto aguardava o príncipe ao pé de uma escada para dar ais
informações sobre Isabella, Bianca ouve um ruído e vê a mão de uma gigantesca armadura
acima das escadas. A aia se desespera e corre até Manfred, que estava em
conversa com Frederic. Este acontecimento faz o marquês repensar seu acordo com
o príncipe, mas a afeição que sente por Matilda o faz persistir no arranjo do
casamento.
Após o jantar, Frederic se dirige ao
oratório para conversar com Hippolita e confirmar que ela está de acordo com o
divórcio. Mas, ao invés de encontrar a princesa, encontra um esqueleto em um
manto de ermitão. Era o fantasma do ermitão que conheceu quando deixou a prisão
e que o indicou o local da espada gigantesca. A aparição o lembrou que ele não
foi libertado da prisão para cometer pecados carnais e o mandou esquecer
Matilda. Frederic fica prostrado ao chão
e é nesse estado de desespero que Hippolita o encontra. Despertando do torpor
com a chegada da princesa, o marquês se dirige ao seu quarto e encontra Manfred
que o esperava para uma noite de bebidas e músicas para celebrar o noivado.
Frederic deixa Manfred sozinho e fecha a porta em sua cara. Manfred fica
possesso e é nesse estado que encontra o guarda que deixou vigiando o
monastério. O príncipe fica sabendo então que uma mulher saiu do castelo para
encontrar-se com Theodore embaixo da estátua de Afonso. Manfred com gana
assassina vai até o local e acreditando que se trata de Isabella, apunhala o
peito de sua própria filha, Matilda.
Matilda enquanto estava caída
exangue, pedia que amparassem seu pai e que não deixassem que ele se matasse
também. Já no castelo, os médicos informaram que sua condição era intratável e
em seu leito de morte, juntou as mãos de Hippolita e Manfred sobre seu peito
ensanguentado para que ficassem juntos. Theodore, em seu desespero, pediu para
casar-se com Matilda antes que ela perecesse, mas não conseguiu.
Após a morte de Matilda, ouve-se um estrondo
de trovão que sacudiu o chão e todo o castelo, fazendo paredes desabarem logo
atrás de Manfred. Um grande ruído de armadura começou a ser ouvido e uma
gigantesca imagem de Afonso aparece em meio às ruínas dizendo que Theodore era
seu herdeiro legítimo. Após isso, a imagem sobe aos céus e é possível divisar o
vulto de São Nicolau ao seu lado (!).
Tocado pelo sobrenatural, Manfred
decide abdicar do principado e conta a todos os presentes sobre a usurpação do
principado e como seu avô, que era criado de quarto de Afonso, o envenenou e
forjou um testamento que o nomeava como único herdeiro. Mas não compreende como
Theodore pode ser o verdadeiro herdeiro, pois Afonso não havia deixado
herdeiros. É neste momento que frei Jerome então conta a sua versão da história,
que explica como Theodore tornou-se o herdeiro do principado. Afonso estava
indo de navio para a Terra Santa, mas ficou três meses preso na Sicília por
causa da força dos ventos. Lá ele conheceu Vitória, uma donzela por quem se apaixonou.
Decidiu casar-se com ela, mas como havia jurado lutar nas Cruzadas, guardou o
casamento em segredo até retornar da Terra Santa. Durante esse tempo Vitória
ficou grávida e deu a luz à uma menina, mas ao saber da morte de Afonso e que
Ricardo havia assumido o trono, somente pode guardar um documento que afirmava
a validade de seu casamento. A filha de Afonso, mãe de Theodoro, casou-se com o
conde de Falconara, que sabia de toda a história.
Manfred e Hippolita decidiram tomar
o hábito e viveram nos monastérios vizinhos. Frederic decidiu dar a mão de
Isabella para Theodore que, triste pela morte de Matilda, decide aceita-la
depois de algum tempo, pois era somente Isabella quem poderia compreendê-lo e compartilhar
de seu sentimento de perene melancolia pela perda de Matilda.