Quando surgiu nossa predileção pelo amor romântico, pelas lutas de espadas travadas por um cavaleiro com todas as virtudes e seus acompanhamentos mágicos? Quando exatamente não se tem como dizer, mas podemos ter uma ideia e, para isso, tomemos o romance de Amadis de Gaula como ponto de partida.
Garci Rodríguez de Montalvo, um
espanhol nascido no século XV, reuniu as estórias de Amadis de Gaula, que já
existiam, ao menos desde o século anterior. Entretanto, analisando alguns
pormenores da obra e o fato da mesma já ser muito conhecida desde aquela época,
nos faz crer que as estórias já existiam bem antes de terem sido reunidas e
impressas.
Levando em conta o contexto da
época, fica claro que as obras foram alteradas para se adequarem à doutrina
católica. Mas, mesmo assim, não se poderia alterar as estórias de forma
completa, justamente por se tratar de estórias de conhecimento comum e pré
cristãs. Muitas vezes Amadis, que é um cavaleiro cristão, é socorrido por
Urganda, sua protetora e uma espécie de fada, ou feiticeira, mas sem dúvida um
ser encantado. É Urganda também quem disponibiliza objetos mágicos a Amadis, os
quais o ajudam a alcançar o que almeja. Esta herança celta está presente ao
longo do livro, e de outros romances de cavalaria. A forma como a mulher é
tratada na obra e o sexo antes do casamento que está presente na obra, dão uma
ideia quanto ao período que a estória foi inicialmente concebida. O casamento
como um sacramento da Igreja, somente foi reconhecido a partir do século XIII.
Acredita-se que a obra seja
originária de Portugal, a maior probabilidade é que realmente seja, mas pode
ser também originária de Espanha. O romance é formado por três livros e
Montalvo escreveu um quarto livro contando as aventuras do filho de Amadis, Esplandián,
em direção ao novo mundo (Las sergas de Esplandián). Este sim, cheio de
moralismos e retirando do romance tudo o que o faz ser mágico e maravilhoso de
se ler.
Embora seja a única versão de
Amadis completa e a mais conhecida, outros escritores também realizaram suas
impressões sobre o romance, a maioria, infelizmente, perdida. Montalvo, que
escreveu sua versão originalmente em galego-português, alterou o final do
terceiro livro (no qual Amadis luta e mata seu próprio filho) para seu próprio
benefício, pois dessa forma poderia escrever o quarto livro, que não se salvou
da fogueira de Dom Quixote!
Os romances de Lancelote do Lago
(ou Lançarote, Sir Lancelot ou ainda Lanzarote del Lago), rei Arthur e Tristão
(e Isolda) são outros romances de cavalaria do mesmo período. O livro de
Chrétien de Troyes, Lancelot, le Chevalier
de la charrete, por exemplo, foi escrito no século XII. Não há como ter uma
base de quando estas estórias foram criadas, só mesmo uma breve ideia. Mas as
cortes da época conversavam. Os poetas viviam em cortes variadas e migrando de
uma para outra, traziam e levavam as histórias ouvidas e contadas. Em Amadis os
personagens são de diferentes cortes ao longo da Europa.
Amadis de Gaula é uma obra
apaixonante que nos permite perceber a grande riqueza que a Idade Média
significou para a humanidade. Foi um período vasto, onde muitas coisas
aconteceram e permitiram que houvesse o mundo de hoje. É possível ter um vislumbre
de que a Idade Média está muito longe de ser a Idade das Trevas, como
aprendemos na escola.
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