sábado, 10 de janeiro de 2015

Amadis de Gaula




Quando surgiu nossa predileção pelo amor romântico, pelas lutas de espadas travadas por um cavaleiro com todas as virtudes e seus acompanhamentos mágicos? Quando exatamente não se tem como dizer, mas podemos ter uma ideia e, para isso, tomemos o romance de Amadis de Gaula como ponto de partida.

Garci Rodríguez de Montalvo, um espanhol nascido no século XV, reuniu as estórias de Amadis de Gaula, que já existiam, ao menos desde o século anterior. Entretanto, analisando alguns pormenores da obra e o fato da mesma já ser muito conhecida desde aquela época, nos faz crer que as estórias já existiam bem antes de terem sido reunidas e impressas.

Levando em conta o contexto da época, fica claro que as obras foram alteradas para se adequarem à doutrina católica. Mas, mesmo assim, não se poderia alterar as estórias de forma completa, justamente por se tratar de estórias de conhecimento comum e pré cristãs. Muitas vezes Amadis, que é um cavaleiro cristão, é socorrido por Urganda, sua protetora e uma espécie de fada, ou feiticeira, mas sem dúvida um ser encantado. É Urganda também quem disponibiliza objetos mágicos a Amadis, os quais o ajudam a alcançar o que almeja. Esta herança celta está presente ao longo do livro, e de outros romances de cavalaria. A forma como a mulher é tratada na obra e o sexo antes do casamento que está presente na obra, dão uma ideia quanto ao período que a estória foi inicialmente concebida. O casamento como um sacramento da Igreja, somente foi reconhecido a partir do século XIII.

Acredita-se que a obra seja originária de Portugal, a maior probabilidade é que realmente seja, mas pode ser também originária de Espanha. O romance é formado por três livros e Montalvo escreveu um quarto livro contando as aventuras do filho de Amadis, Esplandián, em direção ao novo mundo (Las sergas de Esplandián). Este sim, cheio de moralismos e retirando do romance tudo o que o faz ser mágico e maravilhoso de se ler.

Embora seja a única versão de Amadis completa e a mais conhecida, outros escritores também realizaram suas impressões sobre o romance, a maioria, infelizmente, perdida. Montalvo, que escreveu sua versão originalmente em galego-português, alterou o final do terceiro livro (no qual Amadis luta e mata seu próprio filho) para seu próprio benefício, pois dessa forma poderia escrever o quarto livro, que não se salvou da fogueira de Dom Quixote!

Os romances de Lancelote do Lago (ou Lançarote, Sir Lancelot ou ainda Lanzarote del Lago), rei Arthur e Tristão (e Isolda) são outros romances de cavalaria do mesmo período. O livro de Chrétien de Troyes, Lancelot, le Chevalier de la charrete, por exemplo, foi escrito no século XII. Não há como ter uma base de quando estas estórias foram criadas, só mesmo uma breve ideia. Mas as cortes da época conversavam. Os poetas viviam em cortes variadas e migrando de uma para outra, traziam e levavam as histórias ouvidas e contadas. Em Amadis os personagens são de diferentes cortes ao longo da Europa.

Amadis de Gaula é uma obra apaixonante que nos permite perceber a grande riqueza que a Idade Média significou para a humanidade. Foi um período vasto, onde muitas coisas aconteceram e permitiram que houvesse o mundo de hoje. É possível ter um vislumbre de que a Idade Média está muito longe de ser a Idade das Trevas, como aprendemos na escola.

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