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Essa é a capa antiga, mas é bem interessante que a atual... |
Então, esse é um livro de contos
que li há muitos anos na biblioteca da escola. Acho, inclusive, que era a
primeira edição de tão velho que era. Tão velho que minha alergia me impediu de
continuar a lê-lo e o devolvi, não sem antes ler o primeiro conto “A
autoestrada do sul”, que fiquei apaixonada e começar a ler o conto título do
livro, que não estava entendendo nada e estava cansativo e deixei para lá.
Sabe esse sentimento de confusão e cansaço que tive ao
ler o conto “Todos os Fogos o Fogo”? Descobri que é exatamente assim que nos
sentimos ao ler os contos de Cortázar. É o tipo de escritor que dá trabalho, e muito, ao seu leitor. Nada é de graça! Mas mesmo ele não tendo uma escrita muito
convencional hoje em dia (pois não se compara a esses Blockbuster’s literários
que vemos ultimamente e que lemos mil páginas em um instante) vale muito a
leitura e é bem pequeno, são contos bem curtos!
O livro é pequeno e contém 8
contos. São eles:
1. 1 - A
autoestrada do sul
2. 2 - A
saúde dos doentes
3. 3 - Reunião
4. 4 - Senhorita
Cora
5. 5 - A
ilha ao meio dia
6. 6 - Instruções
a John Howell
7. 7 - Todos
os fogos o fogo
8. 8 - O
outro céu
Depois de ler o livro todo entendi que “A autoestrada para
o sul” foi colocado como o primeiro conto por ser o mais fácil de entender. Não
que não seja ótimo, ele é sim! Mas também é o de leitura mais fácil, tem uma
sequência síncrona e um narrador. Os outros contos são mesmo muito confusos e
muito trabalhosos de se ler.
Cortázar é aquele tipo de escritor que não escreve
facilmente, para conseguir lê-lo é necessário muito empenho e muito suor, não é
nada, nada fácil. Em uma mesma sentença o narrador pode oscilar de um para
outro, ou para um terceiro. O local e o tempo narrados podem mudar e é
necessário que o leitor possua uma grande flexibilidade para conseguir
acompanhar a leitura.
No conto 1, a estória se passa em um gigantesco
engarrafamento em uma autoestrada que se destina a Paris. Os personagens são
identificados pelos modelos dos carros que possuem. É bastante interessante e
abre precedente para várias discussões como o modo como as pessoas agem em uma
situação limite, ou as organizações que são feitas nas formações de grupos e
como são vistos os “externos”, ou ainda como são suspensos alguns códigos de
conduta da nossa sociedade e prol de uma “nova” sociedade, e por aí vai!
O conto 2 nos narra a estória de uma família que, por amor,
vive em uma mentira que vai se tornando maior e maior, até se tornar uma “semi
verdade” que preenche o vazio. Já o conto 3 faz uma homenagem à Revolução
cubana. Claro que eu só entendi isso bem mais à frente porque, como eu disse
antes, nada é explicado e vamos catando informações em um mosaico até conseguir
compreender sobre o que se trata e de quem se está falando!
O conto 4 nos fala da internação de um menino para um
procedimento simples e como ele se “envolve” com Cora, a jovem enfermeira do hospital
encarregada a cuidar dele durante o turno da noite. Nesse conto há a
multiplicidade de narradores e são eles muito frenéticos, mudam a todo o tempo , é bem interessante acompanhar o método do
autor.
No conto 5 temos um comissário de bordo/funcionário de uma
agência de turismo na Grécia que se torna obsessivo pela imagem de uma ilha que
aparece na janela do avião sempre ao meio dia, no trajeto que faz diariamente. Certo
dia, ele consegue efetivamente visitar a ilha em suas férias e algo perturbador
acontece. Já no conto 6 temos um cenário de uma peça de teatro que possui como
proposta escolher um espectador da plateia para ser um dos personagens
principais e desenvolver a peça de acordo com seu desempenho. Ao longo da
narrativa o espectador escolhido vai ficando embriagado e um tanto psicótico.
Não temos como saber se sua psicose é real ou não, eu, ao menos, não tive.
O conto 7, conto título do livro, possui uma narrativa
compartilhada. Se passa tanto em uma arena romana, durante o período do império
romano, quanto na França contemporânea. Ambas as personagens estão passando por
um momento difícil, mas não similares. Entretanto, nas duas estórias, ambas
terminam com o fogo. O conto 8 se passa em um local e período definido e nos
narra uma história, mas ao final, vemos que nada estava claro, e duvidamos da
realidade. Achei também este um ótimo conto!
Enfim, uma leitura maravilhosa para perceber um escritor
excelente executando seu trabalho de forma formidável.