sábado, 16 de julho de 2016

Todos os Fogos o Fogo – Julio Cortázar


Essa é a capa antiga, mas é bem interessante que a atual...


Então, esse é um livro de contos que li há muitos anos na biblioteca da escola. Acho, inclusive, que era a primeira edição de tão velho que era. Tão velho que minha alergia me impediu de continuar a lê-lo e o devolvi, não sem antes ler o primeiro conto “A autoestrada do sul”, que fiquei apaixonada e começar a ler o conto título do livro, que não estava entendendo nada e estava cansativo e deixei para lá.


Sabe esse sentimento de confusão e cansaço que tive ao ler o conto “Todos os Fogos o Fogo”? Descobri que é exatamente assim que nos sentimos ao ler os contos de Cortázar. É o tipo de escritor que dá trabalho, e muito, ao seu leitor. Nada é de graça! Mas mesmo ele não tendo uma escrita muito convencional hoje em dia (pois não se compara a esses Blockbuster’s literários que vemos ultimamente e que lemos mil páginas em um instante) vale muito a leitura e é bem pequeno, são contos bem curtos!

O livro é pequeno e contém 8 contos. São eles:

1.       1 - A autoestrada do sul
2.       2 - A saúde dos doentes
3.       3 - Reunião
4.       4 - Senhorita Cora
5.       5 - A ilha ao meio dia
6.       6 - Instruções a John Howell
7.       7 - Todos os fogos o fogo
8.       8 - O outro céu

Depois de ler o livro todo entendi que “A autoestrada para o sul” foi colocado como o primeiro conto por ser o mais fácil de entender. Não que não seja ótimo, ele é sim! Mas também é o de leitura mais fácil, tem uma sequência síncrona e um narrador. Os outros contos são mesmo muito confusos e muito trabalhosos de se ler.

Cortázar é aquele tipo de escritor que não escreve facilmente, para conseguir lê-lo é necessário muito empenho e muito suor, não é nada, nada fácil. Em uma mesma sentença o narrador pode oscilar de um para outro, ou para um terceiro. O local e o tempo narrados podem mudar e é necessário que o leitor possua uma grande flexibilidade para conseguir acompanhar a leitura.

No conto 1, a estória se passa em um gigantesco engarrafamento em uma autoestrada que se destina a Paris. Os personagens são identificados pelos modelos dos carros que possuem. É bastante interessante e abre precedente para várias discussões como o modo como as pessoas agem em uma situação limite, ou as organizações que são feitas nas formações de grupos e como são vistos os “externos”, ou ainda como são suspensos alguns códigos de conduta da nossa sociedade e prol de uma “nova” sociedade, e por aí vai!

O conto 2 nos narra a estória de uma família que, por amor, vive em uma mentira que vai se tornando maior e maior, até se tornar uma “semi verdade” que preenche o vazio. Já o conto 3 faz uma homenagem à Revolução cubana. Claro que eu só entendi isso bem mais à frente porque, como eu disse antes, nada é explicado e vamos catando informações em um mosaico até conseguir compreender sobre o que se trata e de quem se está falando!

O conto 4 nos fala da internação de um menino para um procedimento simples e como ele se “envolve” com Cora, a jovem enfermeira do hospital encarregada a cuidar dele durante o turno da noite. Nesse conto há a multiplicidade de narradores e são eles muito frenéticos, mudam a todo o tempo     , é bem interessante acompanhar o método do autor.

No conto 5 temos um comissário de bordo/funcionário de uma agência de turismo na Grécia que se torna obsessivo pela imagem de uma ilha que aparece na janela do avião sempre ao meio dia, no trajeto que faz diariamente. Certo dia, ele consegue efetivamente visitar a ilha em suas férias e algo perturbador acontece. Já no conto 6 temos um cenário de uma peça de teatro que possui como proposta escolher um espectador da plateia para ser um dos personagens principais e desenvolver a peça de acordo com seu desempenho. Ao longo da narrativa o espectador escolhido vai ficando embriagado e um tanto psicótico. Não temos como saber se sua psicose é real ou não, eu, ao menos, não tive.

O conto 7, conto título do livro, possui uma narrativa compartilhada. Se passa tanto em uma arena romana, durante o período do império romano, quanto na França contemporânea. Ambas as personagens estão passando por um momento difícil, mas não similares. Entretanto, nas duas estórias, ambas terminam com o fogo. O conto 8 se passa em um local e período definido e nos narra uma história, mas ao final, vemos que nada estava claro, e duvidamos da realidade. Achei também este um ótimo conto!

Enfim, uma leitura maravilhosa para perceber um escritor excelente executando seu trabalho de forma formidável.

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